Carolina Canto, psicóloga e Professora Sénior Gymboree, explica tudo sobre o uso de tablets e smartphones nos primeiros anos de vida das crianças
Tablet, telemóvel, TV…ecrãs para todos os gostos e tamanhos. A nossa vida, atualmente, está praticamente dependente de dispositivos digitais e é quase impossível que o dia a dia das crianças não seja também. Apesar de ser quase banal ver bebés e crianças entretidas a ver vídeos enquanto almoçam ou antes de adormecerem, é necessário ter em conta que a exposição a estes objetos deve ser pensada e doseada.
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Quais são os benefícios?
- introdução às tecnologias: estando nós numa era digital faz sentido que a criança conheça esses meios de informação e comunicação e também as entenda como ferramentas de estudo e trabalho.
- são uma forma de entretenimento e diversão.
- são um estímulo para o desenvolvimento da atenção e concentração: ao usarmos jogos ou actividades que exigem planeamento e organização, com objectivos a alcançar, estimulamos a capacidade da criança manter o foco, a ser persistente e a encontrar formas criativas de resolução de problemas. Todas essas são competências importantes para a vida académica e profissional. São competências transversais, consideradas fundamentais para a criança se tornar um adulto bem sucedido e feliz.
Quais são as desvantagens?
O uso excessivo destes meios tecnológicos tem várias consequências negativas
- desenvolvimento social: isolamento, a criança torna-se refém do ecrã em vez de brincar ou estar com os amigos.
- desenvolvimento físico e motor: o sedentarismo faz com que a criança não desenvolva as suas habilidades motoras de equilíbrio, pontaria, coordenação, entre outras. Pode também trazer consequências negativas ao nível da visão e da postura da coluna.
- comportamento: jogos/ vídeos de cariz violento podem incitar comportamentos violentos. A criança/ jovem pode revelar maior agressividade no comportamento e no discurso como resultado da frustração sentida face ao erro/ falha num jogo digital.
Quando se deve colocar uma criança à frente de um ecrã?
Bebés
Nos primeiros meses de vida de um bebé o mais importante é o vínculo afetivo seguro com os adultos de referência. Os estímulos mais adequados são as brincadeiras com os adultos, cantar, tocar, dançar, com recurso também a brinquedos adequados a cada idade.
Não faz mal se o bebé olhar para um ecrã e vir algumas imagens coloridas e tranquilas, mas que seja por poucos períodos de tempo. Se o adulto precisar de se ausentar por uns minutos, a criança fica entretida a olhar para o ecrã.
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Mas esse ecrã pode ser substituído por outros objectos igualmente atrativos como livros, fotografias penduradas num móbil, as tradicionais caixinhas de música…
Um a 2 anos de idade
- O adulto deve controlar o telemóvel ou tablet, gerindo o que a criança vê e ouve. Deve escolher bonecos simples e simpáticos, divertidos e adequados à idade. O visionamento deve ser feito por períodos curtos de tempo, entre 30 a 45 minutos num dia.
- Os pais devem estar a par do que dá na televisão e saber que conteúdos a criança pode ver. Devem ver juntos para o adulto poder escolher o que é adequado e supervisionar o uso do equipamento.
- Sobretudo nos smartphones, a criança facilmente toca no ecrã e escolhe outro conteúdo que pode ser desajustado à sua compreensão e desadequado para o seu desenvolvimento saudável.
3 a 5 anos de idade
- A criança pode escolher dentro do leque de jogos/ bonecos animados que o adulto considera adequados. E o adulto deve manter a supervisão nesse período de tempo, que não deve ultrapassar os 30 minutos de cada vez, até ao máximo de 1 hora por dia.
Idade escolar
- Os interesse da criança alteram-se. Passa a gostar de outro tipo de desenhos animados e jogos. Por isso, convém que os adultos acompanhem este desenvolvimento e ajudem a criança a fazer escolhas adequadas e conscientes.
- continua a ser importante a supervisão do uso do telemóvel/ tablet/ pc/ tv para controlar o que a criança vê e por quanto tempo.
Nota final: os pais / educadores devem estabelecer limites de tempo de uso desses equipamentos, combinando com a criança em que alturas do dia o pode fazer e por quanto tempo.
Foto: Jelleke Vanooteghem on Unsplash