Os animais de estimação são uma presença fundamental em muitas famílias. Cães e gatos são ótimos companheiros para os mais pequenos e, com as férias a aproximarem-se, é necessário ter presentes os cuidados a ter com os nossos amigos de quatro patas.
André Santos, veterinário do Hospital Veterinário do Restelo, explica o que deve ter em conta antes de fazer as malas… para que o período de descanso seja tão bom para si como para os seus bichos.
https://www.instagram.com/andresantosvet/?hl=pt
ANTES DE IR DE FÉRIAS: O QUE FAZER
«Idealmente qualquer animal de estimação deve ser consultado pelo veterinário antes de ir de férias, mesmo tendo todos os cuidados profiláticos em dia (vacinação e desparasitação interna/externa)», começa por explicar André Santos.
É fundamental:
- ter a vacinação atualizada, «tanto a vacina da Raiva – obrigatória – como as restantes que o Médico Veterinário ache pertinentes», salienta o veterinário.
- a desparasitação interna é crucial. «É necessário ter especial atenção para a desparasitação externa, como forma de prevenir doenças transmitidas por carraças/pulgas/mosquitos comuns no nosso país, como por exemplo Leishmaniose, Dirofilariose e Febre da Carraça», alerta André Santos
VAMOS VIAJAR DE AVIÃO. SÃO NECESSÁRIOS CUIDADOS EXTRA?
«Um bom check up antes da viagem é crucial para nos certificarmos que está tudo bem de saúde», começa por explicar André Santos, alertando para o risco que viagens mais longas podem constituir para os animais. «Há viagens que, por muito boas condições que tenham de transporte de animais domésticos, podem causar stress, sendo portanto importante o Médico Veterinário verificar e confirmar o baixo risco da deslocação».
Muito importante:
- alguns países dentro e fora da União Europeia exigem a titulação de anticorpos para a Raiva, mesmo que a vacinação esteja em dia. É fundamental que o animal seja visto por um veterinário para que seja feita uma análise sanguínea que confirme que se encontra tudo dentro da legalidade.
Pode consultar o site da ANA – Aeroportos de Portugal para obter informação mais detalhada
NA HORA DE FAZER AS MALAS… NÃO SE ESQUEÇA DELES!
O médico veterinário André Santos exemplifica que kit básico deve levar quando decidir ir de férias com o seu animal de estimação:
- alimentação para toda a estadia
- medicação regular do animal, caso a faça
- desparasitante interno e externo
- Em viagens de avião é importante que a transportadora ( caso seja responsabilidade dos donos) seja ampla e confortável, idealmente com uma manta ou objetos a que o animal esteja habituado.
- Caso a viagem seja feita de carro deve levar-se bebedouro e comedouro e fazer paragens periódicas para que o animal se sinta confortável e, assim, evitar os enjoos.
- em qualquer situação é imprescindível levar o boletim sanitário do nosso amigo, chapa de identificação na coleira e protetor solar para animais, caso seja um destino de sol.
Tenha atenção!
«É importante verificar se o local de férias e as zonas de lazer (como parques e praias locais) aceitam animais domésticos. No caso de gatos, que são mais susceptíveis ao stress de uma habitação / território novo podem levar-se sprays ou ambientadores próprios para tornar a adaptação mais fácil», explica André Santos.
CHEGÁMOS! O QUE FAZER PARA QUE O NOSSO BICHO SE SINTA EM CASA?
«Com paciência e tempo necessários, deixando o animal reconhecer o território que vai habitar», começa por alertar André Santos, acrescentando:
«É possível que haja comportamentos ditos ‘não normais’, como marcação de território ou medo de circular pela casa. Não se deve adotar uma postura de recriminação para não aumentar o stress inerente ao processo. Tanto em cães, com o uso de coleiras, ou gatos, através de sprays ou ambientadores, podemos diminuir este eventual stress associado à viagem.»
VAMOS OPTAR POR UM HOTEL/PETSITTER. O QUE DEVEMOS TER EM CONTA?
«O hotel/petsit deverá ser um local calmo e que provoque uma sensação de bem-estar no nosso companheiro», explica André Santos. O veterinário avança também que pedir a opinião de amigos e conhecidos sobre o local que está a pensar escolher, bem como comentários e classificações nas redes sociais podem ser bons indicadores na hora de escolher o local onde vai deixar o seu patudo.«O Médico Veterinário poderá muitas vezes aconselhar este local», diz o especialista.
Tenha atenção a:
- condições higieno-sanitárias e enriquecimento ambiental
- quantidade de vezes que os animais são passeados
- tempo de passeio
- trabalhadores da empresa
HÁ ANIMAIS QUE NÃO GOSTAM DE VIAJAR?
Infelizmente, nem todos os animais de estimação se adaptam bem a uma nova casa ou a um ambiente desconhecido. Mas, tal como salienta André Santos, «não é possível generalizar efeitos secundários por espécie ou raça».
«Há animais que sofrem com as viagens, seja a nível de stress ou ansiedade, seja a nível orgânico, podendo mesmo ter vómito derivados de enjoos ou diarreia nos dias seguintes. Geralmente raças de pequeno porte têm tendência a maior ansiedade durante a viagem e as de grande aos enjoos».
E, quanto aos gatos, a opção de ficarem em casa pode ser a mais razoável. «Há casos, maioritariamente em felinos, cuja adaptação à nova casa não se faz de forma simples e os donos optam por deixá-los na sua residência habitual, o que em algumas situações, é uma boa alternativa», explica André Santos.
IR DE FÉRIAS, SIM. ABANDONAR OS ANIMAIS, NÃO.
Os centros oficias de recolha recebem, por ano, 30 mil animais. Embora os números estejam a diminuir em Portugal, ainda existe uma taxa elevada de abandono, que aumenta durante o período de férias.
«Não só como Médico Veterinário mas também como ser humano, este é um assunto que me causa extrema angústia. Os nossos amigos só conhecem a realidade de estar connosco. Vivem para nós sem qualquer exigência ou condição em troca», diz André Santos.
O médico veterinário alerta para a importância da reflexão antes de decidir ter um animal em casa.
«A crueldade do abandono é tanta que pode acabar com a vida de uma animal que, afetado por tamanha tristeza só tenta perceber onde está o seu lar. Infelizmente, a altura das férias é a mais crítica por isso deixo o meu apelo à consciencialização social. O abandono de um animal que nos é devoto e dependente é dos atos mais frios, impiedosos e bárbaros que podem existir.»
André Santos refere ainda que, não só durante o período de Verão mas também durante o resto do ano, existem «pessoas e associações que tentam ajudar a diminuir este flagelo, que tudo fazem para ajudar estes amigos a arranjarem um novo lar.»