BRINCAR É APRENDER
Brincar. Um ramo da árvore do desenvolvimento humano.
Em Novembro de 1993, a USA Today Magazine publicou um interessante artigo sobre esta temática, “Children at play are learning, too”. Judith Myers-Walls, especialista em desenvolvimento infantil, sublinhou que ao brincar a criança está a aprender e a preparar-se para a vida.
A autora acredita que brincar é o trabalho mais importante que uma criança em idade pré-escolar pode fazer para conhecer o mundo, permitindo-lhe alcançar competências, tais como a noção de causa e efeito, a cooperação, a resolução de problemas e o funcionamento do seu corpo.
Os pais como modelos para as crianças
Vou ser a professora que fica doente e vai ao hospital. Tu vais ser o doutor e vais ouvir o meu coração. A capacidade de planeamento e de resolução de problemas é desenvolvida quer na preparação da brincadeira, quer na própria brincadeira. Como estou doente e dói-me a barriga vou fazer uma cara triste. Ao representar diversos personagens a criança vai ensaiar várias relações e assumir diferentes estados emocionais. Esta consciência é fundamental para o desenvolvimento emocional e social. Tens de vestir uma bata branca. Dás-me um remédio? E, como as brincadeiras têm regras para serem seguidas, a criança começa a compreender que, por vezes, tem de adiar preferências e gratificações. Ora se ficou acordado que ela seria o paciente, não poderá usar o estetoscópio do médico, aquele objeto fascinante que tanta curiosidade lhe desperta.
O seu filhote irá admirá-lo por lhe proporcionar momentos de brincadeira tão especiais e únicos. O laço que vos une será fortalecido…
Hora da pintura livre
Uma folha branca no espelho, uma paleta de cores vivas, um pincel na mão de cada criança, um potencial criativo infindável. Divertidas, as crianças animam a folha branca, enquanto descobrem as cores que se vão misturando, dando forma à sua inspiração daquele dia. Naquele dia ouve-se música latina. A forma como pintam, reflete como se sentem. De repente ouve-se um “uuiiiiiii” e a Madalena dá um salto coordenado com uma longa pincelada na sua obra de arte. Segundos depois, quase como um eco, soa um tímido “uiii” e a Diana salta enquanto o pincel desenha uma linha lilás na folha de papel. “É a minha cor preferida!”, diz orgulhosa. Instantes depois, a Diana salta e “poc poc poc” – o pincel transforma-se numa espécie de carimbo. Novo eco e a Madalena experimenta a nova técnica. A sala está repleta de pequenas bolinhas de “sabão” a voar pelo ar. Um coro de mães, pais, avós e crianças entoam algumas canções. “Rebentei uma bolinha com o meu nariz!”, diz o Sebastião contente. A Margarida observa-o atentamente, rebentando timidamente, junto da mãe, as bolinhas que a envolvem. “Outra com o nariz!” grita contente o Sebastião. A Margarida corre e POP: “Mãe, rebentei uma bolinha com o meu nariz!” Nos momentos que se seguem, sente-se a alegria criada por aquele encontro social. Sem trocarem palavras, continuam atarefados em perseguir as leves bolinhas. Sorriem como cúmplices. Lado a lado, brincam durante longos períodos. Parece que os seus olhares não se encontram. Contudo, reproduzem padrões e sequências de comportamento que observam.
Lado a lado, aprendem com o outro. É a brincadeira paralela.
De brinquedo a ferramenta social
Agarrar, sugar, abanar, empurrar. Inicialmente, os brinquedos e objetos do mundo são desafios exploratórios. É comum observarmos uma criança de um ano, segurar na sua mão, um objeto que lhe é desconhecido e observá-lo atentamente como se pensasse: “O que é isto? Para que serve? Faz barulho? A que sabe?” Experimenta e, por processos de tentativa e erro, procura conhecer o mundo que a rodeia, começando a compreender que as suas ações
podem causar impacto. “Se bater com uma bola noutra bola faço um barulho engraçado! E a minha mãe até se ri.”
Mais tarde, os brinquedos e as brincadeiras começam a assumir uma função social. Foi o que aconteceu naquela aula de Gymboree, entre o Sebastião e a Margarida, e naquela aula de Artes entre a Madalena e a Diana. Cenários que se repetem nas aulas que as crianças partilham no Gymboree. Cenários que se repetem, diariamente, no palco da vida dos mais pequenos!
Brincadeira faz de conta, aprendizagem real
Os brinquedos surgem, também, como ferramentas essenciais à brincadeira imaginativa. O pequeno cubo vermelho deixa de ser apenas um objeto para fazer construções. Ele pode tornar-se na caixa de iogurte para o lanche, numa pedra que está no caminho, ou mesmo no caranguejo que passeia à beira mar. Um lenço, leve e esvoaçante, pode transformar-se nas asas de uma colorida borboleta, numa mangueira do carro dos bombeiros, no peixe que nada no lago.
Embora a capacidade para fazer de conta surja mais cedo, é por volta dos três anos que a brincadeira simbólica se torna mais sofisticada, assistindo-se a uma complexificação do pensamento da criança que já é capaz de estabelecer relações lógicas entre as suas ideias. A criança tem agora oportunidade de praticar papéis característicos dos mais crescidos, reproduzindo acontecimentos ou rotinas que lhe são familiares. Enquanto prepara um chá para
a mãe, leva a boneca ao médico ou finge ser a professora da bonecada, a criança está a preparar-se para aventuras futuras.
Acompanhando esta forma de brincar, crescem as competências de linguagem expressiva. Para apoiar o seu filho nesta etapa do seu desenvolvimento, envolva-o numa conversa enquanto ele expressa a sua capacidade de pensamento simbólico. Pegando numa pequena bola amarela a criança diz “É um ovo.” Pergunte-lhe onde o comprou ou que vai fazer com ele. “Um bolo? Então e de que outros ingredientes iremos precisar para fazer a massa do bolo?” Acolha as ideias da criança e integre-as no vosso diálogo. Desta forma a criança irá usar competências cognitivas, como a resolução de problemas (que ingredientes precisamos para fazer um bolo) e competências sociais, na assunção de outra perspetiva (como é que um pasteleiro faz os bolos?)
Divirta-se em casa!
- Construir chocalhos
Para fomentar a curiosidade e as competências auditivas do seu bebé, construa chocalhos. Acrescente diferentes conteúdos a algumas caixas de plástico. Poderá usar massas, pequenos blocos de madeira, colheres, pedaços de papel… Explorem em conjunto os diferentes sons produzidos.
- Fazer sanduíches
Para estimular o pensamento simbólico e a criatividade do seu pequenote, faça uma encomenda de sanduíches. Corte 10-15 quadrados (mais ou menos do tamanho de uma fatia de pão), de diferentes cores, a partir de bocados de tecido. Diga: “Vou fazer uma sanduíche” e empilhe alguns quadrados. Finja comê-la. Veja como a criança reage. Ela também quer comer ou fazer uma sanduíche para si? Faça um pedido especial com os seus ingredientes preferidos.
Oportunidades para brincar são verdadeiras oportunidades para aprender.
Enquanto brincam as crianças desenvolvem de competências sociais, emocionais, físicas e intelectuais. Brincar é o trabalho da criança.